sábado, 3 de novembro de 2012

Lavar, passar, fazer comida, cuidar da casa, levar as crianças para escola e todos os detalhes diários da manutenção de uma estrutura familiar valem, em média, R$ 1,5 mil por mês, segundo três pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF). Eles concluem também que, em média, as mulheres ocupam em afazeres domésticos o dobro do tempo que os homens gastam com as mesmas tarefas.

 Com base no estudo de 2001 a 2010, os professores defendem que essas atividades classificadas de ''trabalho não remunerado e de invisibilidade'' sejam incluídas no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos na economia de uma nação.

A proposta dos professores do Departamento de Economia da UFF Hildete Pereira de Melo, Claudio Monteiro Considera e Alberto Di Sabbato esbarra, porém, em resistências da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo os pesquisadores, se os afazeres forem contabilizados, revelarão o tamanho dos serviços criados pela mão de obra não remunerada. Para chegar ao valor de R$ 1,5 mil, os professores consideraram o gasto médio com a remuneração da empregada doméstica.


A conclusão dos pesquisadores, que fazem o estudo desde 2001, é que no Brasil os afazeres domésticos correspondem a cerca de 12,76% do PIB. Em 2004, por exemplo, representaram R$ 225,4 bilhões. Desse total, 82% (cerca de R$ 185 bilhões) foram gerados pelas atividades desempenhadas por mulheres.

''No mundo inteiro estão sendo feitos esses cálculos para ressaltar (o peso das atividades não remuneradas na economia). A ideia é que, ao não se contar no PIB, esses afazeres são desvalorizados pela sociedade. Lembro que é dito que uma mulher que trabalha em casa não trabalha'', disse à Agência Brasil Claudio Considera.


Hildete Pereira de Melo, que é coordenadora de Programas de Educação e Cultura da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, defende que a inclusão dos gastos de atividades não remuneradas no cálculo do PIB contribuirá para acabar com a ''invisibilidade do trabalho doméstico''.



''A iniciativa mudaria a percepção da mulher na sociedade. Não é por nada que a sociedade ignora esse tipo de trabalho. Há um certo obscurantismo nessas tarefas. Milenarmente isso ocorre. Mensurar esses gastos é mudar a percepção, é empoderar as mulheres em relação ao trabalho não remunerado'', disse Hildete Melo.



Claudio Considera e Hildete Melo ressaltam que, ao não avaliar as atividades domésticas das pessoas, reforça-se no país o conceito de ''invisibilidade'' que caracteriza esses afazeres e a ''inferioridade do papel da mulher na sociedade''. O estudo dos pesquisadores usou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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