quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ser crente não é fácil, pelo simples fato que amar não é fácil, mas é preciso. Imagine fazer uma faculdade de medicina por correspondência sem nem ter concluído o primeiro grau, é assim que muitas vezes vejo o tipo de amor que vivemos, muito distante daquilo que ensina o evangelho.

Me peguei pensando sobre as exigências da instituição igreja e as expectativas da sociedade em relação aos crentes. Veja a lista abaixo, talvez você se encaixe em alguns critérios, sofra com outros ou queira acrescentar itens. Na real, a lista é um tipo de cartilha sobre como deve ser um crente.




01- Cabelo bem cortado, para homens. Crescido, para mulheres.



02- Pontual, nunca se atrasar.



03- Não beber, não fumar, não dançar.



04- Não adoecer e sempre prosperar.



05- Guardar mandamentos com rigor farisaico.



06- Ser feliz e fazer caridade.



07- Ser dizimista e bom contribuinte.



08- Fazer constantes sacrifícios.



09- Vestir-se sempre bem e discretamente.



10- Cumprimentar a todos e sorrir para todos.



11- Nunca estourar, ser um modelo de calma.



Você deve conviver com exigências parecidas. E fáceis. O título deste texto não é sobre a lista que acabou de ler, pois trata-se de regras para se medir, auditar, controlar, enfim, comprovar quem é mais ou menos crente, errado ou certo, ímpio ou pecador. Tem sido por causa de listas similares que a igreja se envolve em questões sem fim. Entre elas, uma das mais problemáticas para a saúde espiritual, o erro de santificar tais regras contidas em tais listas. Não questiono a necessidade das regras, clubes têm, empresas têm, escolas têm. Porém, do clube, da empresa e da escola o que levarei para minha vida não é a obrigatoriedade dos exames médicos, da mensalidade, do uso de uniforme ou do horário para bater cartão, mas sim o prazer da piscina e da quadra, a gratidão pela minha formação acadêmica e todas as conquistas e realizações profissionais. Assim deveria ser na igreja. Para muitos, no entanto, não é assim.



Seguir a lista acima é das tarefas mais fáceis. Qualquer hipócrita consegue fingir ser crente, enganar os crentes e construir carreiras nas comunidades dos crentes. Caso não goste da palavra crente, use evangélico ou cristão, não muda nada, a dificuldade seguirá sendo a mesma, pois somos medidos e julgados por desempenhos que as regras determinam e que os outros podem ver.



Ser é diferente de aparentar. Quem é, é na praia, no shopping, no condomínio, na galera, no conselho, no presbitério, no churrasco, no velório, na formatura, no trânsito, no cartório, na dureza, na fartura, na sanidade, na loucura, na vida, na morte. As dificuldades que a instituição igreja criou ao longo das décadas e séculos fabricou a atual maquiagem gospel que incentiva a satisfação com o aparente, e fácil, e esquece as feridas inflamadas no interior, e difíceis.



Ser crente não é fácil, pelo simples fato que amar não é fácil, mas é preciso. Imagine fazer uma faculdade de medicina por correspondência sem nem ter concluído o primeiro grau, é assim que muitas vezes vejo o tipo de amor que vivemos, muito distante daquilo que ensina o evangelho.



Estamos vivendo a era das fobias. Uma sociedade que se pretende todas as suas imaginadas liberdades cria leis que as garantam. Não mexe comigo, avisa o ofendido, senão meto-lhe um processo. Tal ambiente só aumenta as inseguranças e estremece as convicções. Não queremos fugir da arena, da praça ou do areópago, mas não sabemos como lutar, se com as demonstrações fáceis do nosso cristianismo de cartilha, ou com as demonstrações difíceis.



Paulo, aos Gálatas, dá uma dica. Segundo o apóstolo, devemos viver e conviver com o melhor, e mais difícil, que são as características do fruto do Espírito. Ao final de cada ciclo, a invisível profundidade do fruto do Espírito tornará tudo mais fácil, pois conforme a afirmação clara de Paulo, contra o amor, a paz, a paciência, a bondade, a fé, a mansidão e o equilíbrio não há lei. É difícil, mas sempre valerá a pena.

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