A quatro dias do julgamento dos cinco acusados do desaparecimento e morte de
Eliza Samudio, a expectativa é de um confronto intenso entre a defesa e a
acusação do goleiro Bruno Fernandes de Souza. A ausência do cadáver é um dos
principais aspectos do caso.
De um lado, os advogados de ex-atleta
sustentarão que se não há corpo, não há crime. Em um episódio recente desta
verdadeira novela que se arrasta desde meados de 2010, a defesa afirma que quer
ouvir o ex-marido da mãe de Bruno, que está preso em Governador Valadares. Os
advogados apresentaram uma carta que teria sido escrita por Luiz Henrique Franco
Timóteo, dizendo que ajudou a modelo a sair do país em março de 2010 usando
documentação falsa. Rui Pimenta, um dos defensores do goleiro, disse que Eliza
teria ido para a Bolívia e, em seguida, para o Leste Europeu.
Do outro, a
acusação corre contra o tempo para conseguir autorização para que uma
testemunha-chave do processo que apura o crime preste depoimento: o jovem
J.L.L.R, de 19 anos. O primo de Bruno foi arrolado como testemunha de ambas as
partes, mas está inserido no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes
Ameaçados de Morte, de forma que não pode comparecer ao júri na próxima
segunda-feira.
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro entrou com um requerimento junto à
Justiça para que ele seja ouvido por videoconferência. O jovem, que era menor na
época do crime, disse que Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e Bruno
teriam trazido Eliza e o filho do Rio de Janeiro para o sítio em Esmeraldas, na
Grande BH. O adolescente também informou que as partes do corpo da mulher foram
jogadas para os cães. Outra testemunha que seria fundamental durante o júri,
Sérgio Rosa Sales, foi assassinado a tiros em agosto deste ano por um crime
passional, segundo a polícia.
Com esses argumentos, as partes tentarão
convencer os jurados da inocência ou culpa de Bruno e dos demais réus do caso.
Vários fatores podem influenciar a decisão do júri, desde um gesto, uma palavra
e até o tom de voz dos envolvidos. Assim, segundo o jurista e criminalista Luiz
Flávio Gomes, quem transmitir mais convicção aos jurados vence o confronto. “A
expectativa é de que haverá um debate muito intenso. Se o promotor apresentar as
provas de forma bastante segura, ele ganha. E o crime é mais favorável para a
acusação por causa da pressão midiática. Mas este é um caso extraordinário para
uma defesa histórica porque não há corpo”, analisa.
Crime sem
corpo
De 2010 até este ano, as buscas pelo corpo de Eliza
Samudio incluíram uma lagoa en Ribeirão das Neves, a casa do ex-policial Marcos
Aparecido dos Santos, o Bola - os cães dele foram examinados para verificar se
haviam ingerido carne humana -, a Lagoa do Nado, na Região Norte de Belo
Horizonte. Os policiais também fizeram buscas em um poço no Bairro Planalto
depois que uma mulher disse ter “sonhado” que o corpo havia sido desovado no
local. E, em agosto, a polícia voltou ao sítio que pertenceu ao goleiro em
Esmeraldas após uma denúncia. Com ajuda do Corpo de Bombeiros, foram feitas
escavações em parte do terreno, mas, novamente, o trabalho foi
fustrado.
Gomes destaca a falta do corpo como principal argumento da
defesa mas, segundo ele, na ausência do primo do goleiro como testemunha do
crime, valem as provas indiciárias para a acusação – análises periciais,
depoimentos anteriores, vídeos, cartas, ligações telefônicas.
Ainda de
acordo com o criminalista, vale lembrar que há outros casos na Justiça
brasileira em que houve absolvição ou condenação mesmo sem o corpo da vítima.
Luiz Flávio Gomes cita o caso dos irmãos Naves, na década de 1930, em que
Sebastião e Joaquim naves foram torturados e condenados por ter roubado e matado
um conhecido. O caso só foi esclarecido em 1952, quando a vítima, desaparecida
por 15 anos, retornou à cidade de Araguari, no Sul de Minas. Há alguns anos, um
policial militar de Brasília também foi condenado sem que houvesse
corpo.
Já no caso que ficou conhecido como Dana de Teffé, no Rio de
Janeiro da década de 1960, o advogado apontado como suspeito da morte da
ex-mulher do embaixador brasileiro Manuel de Teffé, foi absolvido e o corpo
nunca apareceu.
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
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