A fim de podermos entender a visão do senhorio de Deus em nossas vidas, bem como a nossa condição de servos (escravos) Seus, é preciso que estabeleçamos antes um fundamento claro do que a Bíblia ensina sobre “redenção”.
Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas o seu significado vai muito além disso. A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Ela significa “readquirir uma propriedade perdida”. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, Ele determinou que elas fossem ilustradas no Antigo Testamento:
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10.1 – Tradução Brasileira)
A sombra é diferente da imagem real que a projeta. Assim também, as ordenanças da Antiga Aliança (práticas literais) tinham características semelhantes às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). A circuncisão deixou de ser literal e passou a ser uma experiência no coração (Rm 2.28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto tornou-se uma figura da obra de Cristo na Cruz (Jo 3.14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos não como ordenanças literais, pelas quais quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:
“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo.” (Colossenses 2.16,17)
É desta forma que precisamos olhar para a lei da redenção no Antigo Testamento. Durante anos Deus fez com que o povo praticasse uma encenação do que Ele mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). Paulo se referiu a Jesus como o Cordeiro Pascal (1 Co 5.7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos tinham por objetivo fazer com que eles entendessem uma figura que somente seria revelada posteriormente. Com a Redenção não foi diferente. O Livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida.
Toda dívida tinha que ser paga. Se um indivíduo não tivesse recursos para honrar os seus compromissos, ele deveria dar os seus bens em pagamento. Se estes não fossem suficientes, ele também deveria entregar as suas terras. E, se elas ainda não bastassem para a quitação da dívida, o próprio indivíduo (e às vezes até a sua família) deveria ser dado como pagamento. Isto faria dele um escravo. Lemos em 2 Reis 4 que uma mulher viúva, que fora casada com um dos filhos dos profetas, perderia os seus filhos, pois seriam levados como escravos se ela não pagasse a sua dívida. E, quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas de esta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém pagava a sua dívida (um redentor) ou ela esperava nesta condição até que chegasse o Ano do Jubileu (que se repetia a cada cinquenta anos). Veja o que a Lei Mosaica dizia sobre isto:
“Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão.” (Levítico 25.25-28)
A redenção era o pagamento da dívida feito por um parente próximo. Por meio do pagamento ele comprava de volta o que se perdera. Então a pessoa que fora escravizada deixava de pertencer a quem antes ela devia e a quem servia.
Por exemplo: se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e ainda ser levado como escravo, e, se o meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo! Eu apenas mudaria de amo! Eu agora passaria a ser escravo do meu irmão, porque ele me comprou! Qual é então o proveito disso? De que adianta ficarmos livres de um para nos tornarmos escravos de outro? A diferença era que o novo dono era um parente que pagou essa dívida por amor (Um escravo normalmente não valia tanto.), e, justamente por causa do seu amor, ele trataria o escravo com brandura, com misericórdia.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
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